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EXÉRCITO BOLIVIANO SE DECLARA SOCIALISTA E ANTIIMPERIALISTA

19/11/2010

O Exército Boliviano afirmou oficialmente, em 14 de novembro do ano em curso, que é uma instituição “socialista” e “antiimperialista”, durante celebração do Bicentenário de sua criação – com a presença do presidente Evo Morales.

O comandante do Exército, Antonio Cueto, deixou claro, em ato realizado no Colégio Militar, em La Paz, que as Forças Armadas atuarão com dignidade e soberania. “Nossa contribuição institucional foi fundamental para a construção da Bolívia, especialmente nos momentos de inflexão tanto interna como externa; por isso, nosso Exército ostenta com orgulho a insígnia de fundador da pátria”, disse o comandante – segundo informação da Agência ABI.

Cueto declarou ainda que os soldados estão “comprometidos com o atual processo”, que Morales lidera, que tem como eixo central a nova Constituição, “conscientes que são de sua realidade”.

Em virtude da nova Carta Magna – ressaltou –, o Exército é atualmente uma “instituição socialista, comunitária e, como tal, nos declaramos antiimperialistas”.

“Na Bolívia não deve existir nenhum poder externo que se imponha ao país; queremos e devemos agir com soberania e viver com dignidade”, ressaltou o comandante, afirmando que também é anticapitalista, porque este sistema está destruindo a Mãe Terra, e pediu que se juntem todos os esforços e capacidades para defender o meio ambiente.

Por outra parte, Cueto disse que “a Bolívia é um Estado pacifista, que promove a cultura e o direito à paz”, porém, fez questão de dizer que o Exército preservará o direito legítimo à defesa do território nacional e dos recursos naturais.

“Na preservação da soberania não vamos permitir, sob nenhuma circunstância, a instalação de bases militares de potências estrangeiras em nosso território”, assegurou.

A ALIANÇA REVOLUCIONÁRIA ANTIIMPERIALISTA APÓIA AS DECLARAÇÕES DO COMANDANTE DO EXÉRCITO, ANTONIO CUETO

O discurso do comandante do Exército Nacional, Antonio Cueto, durante a comemoração do Bicentenário de criação do Exército Boliviano, provocou diversas reações. Como era de se esperar, a direita reagiu com toda a sua artilharia verbal contra as declarações de Cueto.

O General Cueto fundamentou suas declarações no papel antiimperialista que teve o Exército Nacional desde1810, quando recorreu à luta armada para derrotar o colonialismo espanhol. Neste aspecto, seguiu o exemplo das rebeliões encabeçadas por Tupak Katari, Bartolina Sisa e outros líderes forjados na luta contra o colonialismo e pela independência nacional.

A Aliança Revolucionária Antiimperialista considera que a posição do General Cueto           responde a uma necessária atualização da orientação do Exército e, em geral, das Forças Armadas, num momento em que o país vive importantes mudanças políticas, sociais e econômicas. Deve-se ressaltar que as declarações do Comandante não são improvisadas e sem antecedentes históricos. Já na década de 50 do século XIX, o general Isidoro Belzu defendeu a necessidade de “implantar o comunismo da justiça”. São os pró-imperialistas e usurpadores de terras de ontem e os de hoje os que buscam empanar as páginas históricas progressistas do Exército Boliviano. Também, querem levar ao esquecimento o que foi o governo do general David Toro, que liderou o movimento conhecido como “socialismo militar” e que nacionalizou o petróleo, em 1937, que estava nas mãos da Standard Oil Co., transnacional norte-americana. Pretendem ignorar que foi outro presidente militar, Alfredo Ovando Candía, que, em conjunto com o fundador do Partido Socialista-1, Marcelo Quiroga Santa Cruz, nacionalizou a Gulf Oil Co.

É certo também que as Forças Armadas tiveram membros de posição reacionária, antioperária, genocidas e racistas; que instauraram ditaduras opressoras e entreguistas. Foi contra essas posições, resgatando as tradições progressistas e sua projeção para o futuro, com a superação do capitalismo, que se comemorou o Bicentenário da criação do Exército Nacional.

Por tudo isso, a Aliança Revolucionária Antiimperialista expressa sua satisfação em dar respaldo às afirmações do general Antonio Cueto, em concordância com a orientação do governo de Evo Morales, amparado na Constituição Política do Estado.

Comitê Bolivariano de São Paulo

ELEIÇÃO DE DILMA, UM AVANÇO?

02/11/2010

O governo Lula procurou manter os fundamentos básicos da política econômica da era FHC: taxas altas de juro e superávit fiscal para atender a interesses de banqueiros; uma atenção muito especial ao agronegócio, para o qual houve crédito fácil e em grande monta; a não-reversão de privatizações; a não-recuperação de ações da Petrobrás na Bolsa de Nova Iorque, vendidas ao capital privado dos EUA, a preço de bananas, por Fernando Henrique Cardoso; a manutenção dos leilões do petróleo baseada na lei entreguista de governo anterior; a ausência de tomada de iniciativa buscando realizar auditoria da divida pública, como prevê a Constituição Federal.

Em relação ao atendimento a demandas sociais, Lula ficou muito longe do mínimo desejado, em relação com a atenção que deu ao agronegócio e ao grande capital em geral. Não fazendo a reforma agrária, nada avançou em ações para quebrar o monopólio da terra, contentando latifundiários. Pouco fez pela Educação: ao invés de aumento significativo em gastos com a educação pública, preferiu engordar faculdades privadas, através do PROUNI. Na área da Saúde, realizou muito pouco, permitindo que o atendimento aos que não têm convênio privado cada vez mais piorasse. E no que toca à Bolsa Família, aí não foi além de uma política compensatória.

Então, onde está o avanço do governo Lula em comparação com o de FHC? É evidente que não se nota uma grande diferença, de acordo com o que se esperava de uma administração encabeçada por um líder proveniente do chamado campo popular. Contudo, ela existe, significando um passo adiante. Vejamos: acerca da política externa, Lula primou pela independência em relação ao desejo de potências, principalmente, os EUA – com a sua política de impor regras aos povos, inclusive através das armas – o que tem contribuído significativamente para neutralizar a política agressiva estadunidense sobre os governos progressistas da América Latina; os movimentos sociais, em geral, não têm sido tratados como casos de polícia, permitindo-lhes espaços democráticos para a sua organização e luta; em relação à política de crédito, houve alguma melhora para com os pequenos negócios, na cidade e no campo, embora muito tímida, se se compara com o que vêm recebendo grandes capitalistas, como usineiros e construtoras; deu uma melhorada no salário mínimo, que ainda é um dos mais baixos da América Latina; se não desprivatizou empresas importantes, verdadeiramente entregues a grupos econômicos pelo governo fernandista, também não pode ser considerado um governo privatista, deu uma parada no processo de privatização que tantos danos causou ao Brasil.

Então, se o governo Dilma significa a continuação do governo Lula, no fundamental, pode-se dizer que vitória da candidata petista pode ser vista como um avanço, um passo a mais? Bom, pelo visto, praticamente não. Aliás, se Dilma, em algum momento, no governo, tivesse destoado dos compromissos assumidos por Lula nos seus dois governos, com obediência a qualquer tipo de contrato firmado, inclusive com o capital financeiro, não seria ela a candidata do presidente e das forças ligadas diretamente a ele. Dito isto, o que justificou a união de forças democráticas e progressistas em torno da candidatura da ex-ministra da Casa Civil? É que, se Dilma não é um avanço, Serra, com certeza, significa o retrocesso, uma ameaça não só às nossas modestas conquistas sociais – que nos custaram até mesmo sangue derramado – porém, mais ainda, ao pouco que se conquistou em termos políticos e de desenvolvimento do processo democrático.

Comitê Bolivariano de São Paulo

CAMPANHA ELEITORAL: IMITANDO OS EUA

02/11/2010

É claro que havia diferença entre a candidatura de Dilma e a de Serra. Não há dúvida. Mas não se trata de uma diferença profunda. Uma, a de Serra, tinha como propósito levar as políticas neoliberais às últimas consequências e o consequente alinhamento à ALCA, por um Brasil neo-colônia de ponta; a de Dilma, de fazer avançar o “capitalismo brasileiro”, como força preponderante na UNASUR e com capacidade de concorrer como sub-império com outros sub-impérios e impérios. A de Serra, em função de relações político-sociais impostas, tendo a repressão como questão de princípio. A de Dilma, portadora de uma política de pacto social passivo, não negociado, diferente do que se deu na Europa entre a burguesia e setores operários aristocratizados de grandes empresas. Nenhuma das duas candidaturas se propunha enfrentar os interesses dos monopólios de qualquer natureza, financeiros ou não. Enfim, sem grandes diferenças de propostas, para defender a manutenção da mesma estrutura econômica e social.

É por isso que a campanha entre os dois concorrentes se deu em forma de imitação das campanhas eleitorais dos EUA, onde o Partido Republicano e o Democrata defendem, no fundamental, os mesmos interesses. Não havendo diferença de fundo entre as propostas dos candidatos, restou a lógica do gerencismo, a discussão sobre quem seria o melhor gerente do Brasil, tratado como se fosse uma empresa. Porém, como os candidatos a gerente tinham dúvida de qual currículo seria mais aceito pelo eleitorado, o caminho para o embate não poderia ser outro senão o de um buscar desqualificar o outro, através de supostos envolvimentos com escândalos, acrescido de um fato aparentemente novo entre nós, de caráter medieval: o de que um está mais com Deus de que o outro e que consequentemente um dos dois é mais endemoninhado. O Brasil, que não é de Deus nem do Diabo, quase entra em transe com este medievalismo praticado por ambos os gerencistas.

É claro, como era de se esperar, o tucanato e seu séquito, fundamentalistas de direita, tentando imitar o Partido Republicano estadunidense, foram os que mais levaram às últimas conseqüências o escandalismo, o deísmo e o demonismo; a candidata do PT fez a sua parte neste festival da democracia de mercado, permitindo-se algum espaço para uma abordagem que não chegou a nascer como um tema: a não privatização do pré-sal, que, para ela, é igual à semi-privatização, através de uma legislação nova que não anula nem nega leilões: o contrato de partilha.

Nesta festa brasileira da eleição de mercado só faltou um dos dois candidatos defenderem de forma direta que 5,5 milhões de mulheres que cometeram aborto deveriam ser colocadas atrás das grades, o que seria a Santa Inquisição sem fogueira. Mas, aí os dois candidatos a gerente se deparariam com um problema estrutural grave da empresa que querem administrar: falta de cadeias para tanta gente. A coisa ficou medonha. Serra, justiça se faça, parecia o mais fanático dos beatos: se um padre exigisse que ele comesse um quilo de hóstias ele as comeria. É a paixão pela gerência!

Marina tentou ser a novidade, colocou-se como a terceira via , imitando Tony Blair, preferiu imitar os ingleses. Mas alguém a acusou de eco-capitalista. Aí ela passou a ser vista por muita gente como representante da terceira via capitalista. Uma espécie de capitalismo esverdeado, imaginário, talvez com chaminés, asfalto, produtos plásticos, gasolina e escapamentos de automóveis, todos pintados de verde. Não teve lá grande sucesso. Não foi para o segundo turno.

Assim, adotando-se o jeito norte- americano de disputa eleitoral, a campanha se deu nos moldes de que as forças de direita tanto gostam: tudo menos o debate político-ideológico de que elas têm tanto medo.

Cláudio de Lima