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COLONIALISMO MATA KADDAFI E A SOBERANIA DA LÍBIA

24/10/2011

Kaddafi liderou uma revolução que derrubou um rei corrupto e a serviço de potências capitalistas, principalmente no que se refere à entrega de petróleo líbio a empresas estrangeiras. Lançando como plataforma política e doutrinária o seu chamado Livro Verde, Kaddafi defendia um socialismo autóctone, tribal, distante de qualquer outra experiência já ocorrida em outras regiões do mundo, a começar pela não-existência de um parlamento, de uma democracia representativa. Realizou reformas sociais importantes, dando prioridade para a Educação e uma razoável distribuição de riquezas. Nacionalizou o petróleo. Por isso, teve contra si todas as potências capitalistas, mormente os EUA, que chegaram a atacar o palácio do governo, matando uma filha sua.

Anos depois, Kaddafi muda de orientação política e de relacionamento com as potências imperialistas. Aproxima-se de governos destas potências e acaba por tomar medidas privatizantes, como a concessão de exploração de petróleo a petroleiras privadas. Rompe, desta forma, com o que ele mesmo defendia em sua campanha antiimperialista dos anos 60 e 70, principalmente. Com certeza, perdeu apoio popular devido a esta sua nova tomada de posição. No mínimo, o povo líbio ficou um tanto perplexo frente ao novo Kaddafi.

Contudo, esta aproximação de Kaddafi ao neoliberalismo e de apoio a Bush nas ações deste contra a AL-KAEDA não garantia que as potências capitalistas achassem que ele merecia sua plena confiança. Assim, agiriam contra ele no momento oportuno. O seu desgaste junto ao povo tornou-se este momento, em nome da necessidade de derrotar um ditador, que – diga-se de passagem – não era tratado como tal anteriormente pelos próprios governantes desses impérios. Chegava o instante de os colonialistas retomarem a Líbia, com seu petróleo, ouro e riquezas outras.

O objetivo primeiro para concluir este objetivo era a morte de Kaddafi. Mantê-lo vivo não seria nada seguro. Poderia ele sofrer uma “recaída”, voltando a ser o nacionalista e revolucionário da Líbia independente. Conseguiram os colonialistas mobilizar seus meios de comunicação em todo o mundo, obtendo apoio ou a indiferença da maior parte da opinião pública para a tese de que representavam o bem frente a um mal que deveria ser destruído, a qualquer custo, inclusive com desrespeito à própria resolução da ONU, que não incluía o assassinato de Kaddafi.

Kaddafi chegou a um ponto, que nem o povo nem o imperialismo confiavam nele. O povo, num quadro de inexistência de organização e lideranças revolucionárias, não teve condição de avançar na defesa de seu país, conseguindo vitórias políticas que lhe garantissem conquistas sócio-econômicas. Sem forças revolucionárias anti-Kaddafi, a insurgência para derrubá-lo vem pela direita, disposta a tudo para atingir seu intento, colocando-se a serviço das potências neocolonialistas, sabendo que, sem elas, jamais derrubariam o governo, não obstante o desgaste de Kadaffi junto à população.

Com o apoio das bombas da OTAN, matam não só Kaddafi, mas, também, a soberania da Líbia. De ex-colônia, a Líbia passa a ser neocolônia, até que seu povo, forjando na luta novos líderes sem vacilação juntos aos que desejam dominá-lo, conquiste sua liberdade e trace o seu próprio destino.

AS ESQUERDAS E A LÍBIA

Nesse espaço de transição entre a queda da União Soviética e o estabelecimento de um novo processo revolucionário em avanço no mundo, aparecem esquerdas de todos os tipos, inclusive as que se embriagam com agendas imperialistas, dando eco às suas teses de dominação, em nome da democracia de mercado e de falsos direitos humanos, como se impérios tivessem compromisso com liberdades individuais e com a felicidade humana. A indiferença, ou mesmo o apoio tácito da maioria absoluta de tais esquerdas em relação às ações imperialista na Líbia, é uma prova disso, tristemente obedientes às assertivas de governos da OTAN de que o que pretendiam com a derrota e morte de Kaddafi era livrar a Líbia de um tirano, um ditador.

Os colonialistas, por razões óbvias, não diziam o que pretendiam verdadeiramente com a sua invasão da Líbia, que valeria a pena praticarem matança para apoderar-se de petróleo e outros recursos naturais do país. As esquerdas, da crise ideológica que afeta a humanidade no momento, absorveram esta astúcia imperialista com uma tranquilidade assustadora. Não entenderam, por serem setores de crise ideológica em andamento, que a questão não se resumia no apoio, ou não, à figura de Kaddafi. É sabido – não se nega isso – que Kaddafi, com a sua recente aproximação a potências imperialistas, com suas privatizações e outras políticas nocivas ao povo líbio, acabaria por afastar a simpatia que as forças progressistas de praticamente todo o mundo tinham por ele e seu governo. Isso é compreensível. Porém, não era o apoio, ou não, a Kaddafi que estava em jogo, mas, sim, a agressão ao princípio de autodeterminação dos povos, que têm o direito de escolher soberanamente seu próprio caminho para a solução de seus problemas políticos, econômicos e sociais. Um absurdo que alguém que se diz de esquerda, democrata ou progressista, concorde, de uma forma ou de outra, que potências colonialistas decidam assassinar um chefe de governo de qualquer país do Planeta por ser este inconveniente aos seus objetivos, em nome de princípios que não são inerentes a quem tem, como fundamento de sua própria existência, a dominação e exploração de povos ao longo de séculos de colonialismo. Achar que colonialistas, criadores do fascismo, agem a bem da ordem democrática e do respeito a direitos humanos é ingenuidade ou má-fé .

Ao invés da indiferença ou apoio tácito ao assassinato de Kaddafi pela OTAN e seus fantoches na Líbia, todas as esquerdas deveriam sair em defesa da nação líbia, defendendo que o próprio povo deste país decidisse que caminho seguir, como superar as contradições que enfrentam.

Não quiseram entender tais esquerdas que os mesmos falsos argumentos usados pelos imperialistas para intervirem na Líbia, com bombas destruindo milhares de vidas humanas, poderão ser usados por eles para derrubarem governos de outros países no futuro, para satisfazerem seu interesses. Com a indiferença, ou o apoio implícito de certas esquerdas, está aberto mais um triste precedente. A esperança é que os povos se organizem e reajam a futuras escaladas intervencionistas do imperialismo.

Comitê Bolivariano de São Paulo

UMA MAFIOCRACIA DOMINA O PLANETA

14/10/2011

Em matéria passada eu explicava que MÁFIA é um termo mundialmente utilizado que se refere a um tipo especial de crime organizado. Originado na Itália meridional, atualmente o termo é também usado para identificar, tanto simples grupos de criminosos organizados, como associações de indivíduos que empregam métodos ilícitos ou ilegais em seus negócios ou postos de trabalho. A máfia pode ser, tanto um grupo social, ou um poder. Por mafiocracia, se entende, então, o sistema em que se sustentam, se organizam e se administram as práticas de certos grupos delituosos.

A mafiocracia possui sua racionalidade e um código de ética particular, que são sustentados pelas vertentes mais negativas da ideologia capitalista: uma, representada pelo setor de capitalistas, cuja motivação central de vida é a avareza; estes podem ser empreendedores ou conservadores, porém, todos são individualistas; têm um tipo de comportamento de orientação acumulativa; gostam de se apropriar de riquezas através do trabalho alheio e da usura. Alguns ligam esta motivação a idéias religiosas do protestantismo e do judaísmo.

A outra vertente é representada por indivíduos conduzidos por uma ambição desmedida de enriquecimento fácil e rápido; como todos os capitalistas, fundamentam sua conduta na chamada ética dos interesses materiais; sua orientação, por princípio, é improdutiva e de exploração; usam qualquer meio possível para conseguirem seu bem-estar particular. Neste setor, se encontram, misturados, yuppies impacientes das áreas financeiras e bancárias, comerciantes desonestos, lobistas e gestores corruptos, como também funcionários corrompidos dos setores públicos e privados, ao lado de outros costumeiros delinquentes.

A mafiocracia é um sistema de organizações criminosas que, qual uma hera daninha, aproveita-se das debilidades de todos os sistemas humanos, infiltrando-se neles de forma aberta ou sub-repticiamente. É, por conseguinte, um sistema parasitário. Como outros grupos com interesses particulares, as máfias acham, nos procedimentos informais, as vias e meios para penetrarem em empresas, ministérios etc., obtendo, assim, vantagens e benefícios. Estes meios informais são propícios para o tráfico de influência e para outras ações patológicas que afetam o funcionamento das organizações, especialmente do setor público; o que não significa que a área privada fique imune a tais males.

Contudo, as máfias, não só se valem de alguns meios informais para controlar e obter vantagens nas organizações em que conseguem penetrar, mas também construíram verdadeiras corporações para a realização de seus ignóbeis propósitos. De tal maneira, que tais associações criminosas alcançaram enorme poder e enorme difusão nos mais diversos campos da atividade humana, em todo o mundo: no sistema financeiro e bancário; em áreas de seguros; bolsas de valores; setor imobiliário e de movimento cambial, assim como no sistema econômico de empresas estatais e privadas; sindicatos; estrutura judicial, policial e penitenciária; sistema alfandegário e portuário; sistema de saúde e hospitalar, incluindo nisso tudo a produção e o tráfico de armas e drogas; o contrabando de bens e pessoas, sem falar de tantas outras áreas sob controle destas organizações delituosas.

Certa literatura tem pretendido atribuir as práticas de delitos nacionais e internacionais exclusivamente às máfias dos chamados “Estados falidos”, localizados, é claro, em regiões subdesenvolvidas do chamado Terceiro Mundo. Para esta literatura, se existe alguma conexão delituosa entre as regiões do Sul atrasado e o Norte desenvolvido (como, por exemplo, as que ocorrem entre os produtores de drogas colombianos, traficantes mexicanos e grandes distribuidores e consumidores estadunidenses, ou como a que há na extração e tráfico ilegal de pedras preciosas, ou de minerais de grande valor e madeiras nobres, entre máfias africanas e talhadores europeus e judeus), os países desenvolvidos são as vítimas desta relação. Os países atrasados ficam como réus.

É certo que existem máfias em todos os países, não apenas organizadas para atividades com drogas e minerais valiosos e escassos, mas que também praticam grandes fraudes financeiras e econômicas que tanto atingem os estados como os cidadãos. Vale lembrar, por exemplo, a máfia de políticos e funcionários corruptos que, na ex-URSS, se apoderou de bens e matérias-primas, colocando-as no “mercado negro”, sabotando a economia, quando se desmontava a burocracia soviética. Outra, que operou, não faz muito tempo, na Venezuela, em torno de fraudes bancárias, agindo no campo imobiliário e com tráfico de bônus e de dólares, que influenciou sobre o índice inflacionário do país. Há, ainda, máfias de funcionários públicos e operadores sindicais nas indústrias nacionais de ferro, alumínio e da construção.

Entretanto, indubitavelmente, as máfias mais poderosas se encontram nos países desenvolvidos. São elas, em verdade, as grandes financistas, as que ditam suas próprias pautas e controlam os grandes mercados.

Por acaso, não são verdadeiras máfias as associações financeiras e bancárias, e a militar-industrial norte-americana, que atualmente governam a economia global? Se alguém tem alguma dúvida a respeito disso, vale a pena ler, como uma simples amostra, o artigo de Matt Taibbi, na revista Rolling Stone, em que conta a história e revela o papel do banco de investimentos, Goldman Sachs, na crise econômica mundial e, praticamente, em todas as bolhas financeiras das últimas décadas. Taibbi culpa os Goldmanites de aurífagos, famélicos e ferozes alquimistas do dinheiro do povo; manipuladores, junto ao governo, das regulamentações financeiras e dos mercados de valores, em benefício próprio. Além de se favorecerem do resgate financeiro, que é orquestrado por seus ex-diretores, transformados em funcionários do governo.

A lista de ex-diretores do Goldman Sachs, nas altas posições do governo dos Estados Unidos, é escandalosa; é como se o Goldman Sachs fosse a ante-sala das secretarias de finanças do governo, afirma Taibbi. Por exemplo, o último secretário do Tesouro de George W.Bush, o ex-CEO do Goldman, Henry Paulson, foi o arquiteto do plano de resgate, um suspeito plano de auto-serviço para a canalização de bilhões de dólares para seus velhos amigos, em Wall Street. Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro de Bill Clinton, passou 26 anos no Goldman, antes de se tornar presidente do Citigroup, que – por sua vez – tem um resgate de 300 bilhões de dólares dos contribuintes, outorgado por Paulson. Entre outros, há John Thain, o detestável chefe do Merril Lynch, que comprou para seu Escritório um tapete de US$ 87.000, enquanto sua empresa estava implodindo. Antigo banqueiro do Goldman, Thain aproveitou-se de uma mãozinha de muitos bilhões de dólares, dada por Paulson, que usou bilhões, dos fundos dos contribuintes, para ajudar o Bank of America a salvar a pobre empresa de Thain. Os diretores dos bancos nacionais do Canadá e da Itália são ex-alunos de Goldman, como também o são o chefe do Banco Mundial, o chefe da Bolsa de Nova Iorque e, também, os últimos chefes do Federal Reserve Bank of New York.

Todavia, a análise de Taibbi ainda pode ser considerada como um tanto incompleta, visto que, acima desses funcionários mafiosos, se encontram os “capi di tutti i capi”. César Aching Guzmán identifica estes “poderosos dos poderosos”, nas seguintes famílias mafiosas:

1-Família Rothschild (Londres, Berlim e Israel)

2-Família Rockefeller (EUA e Israel)

3-Família Morgan (Inglaterra)

4-Família Warburg (Alemanha)

5-Família Lazard (França)

6-Família Mosés Israel Seif (Itália e Israel)

7-Família Kuhn, Loeb (Alemanha e EUA)

8-Família Lehman Brothers (EUA)

9-Família Goldman Sachs (EUA)

Segundo Aching Guzmán, “estas mega-ricas famílias e seus descendentes são intocáveis pela lei, e isentas de impostos por toda a vida. Cada vez que fazem a tal “salvação econômica”, na realidade COMPRAM os bancos e as financeiras do mundo, apropriando-se pouco a pouco do país que “salvam”… Eles seriam os chefes das máfias que controlam o Planeta, donos de bancos criadores dos grandes cassinos de especulação e dos paraísos financeiros; são os donos das grandes corporações da indústria militar, das grandes mineradoras, petroleiras… São os que organizam ações terroristas, fomentam guerras e invasões, ou seja, são os responsáveis diretos pela miséria, desolação e morte em que vivem bilhões de seres humanos; são os que puseram o Planeta e nossa espécie à beira da extinção.

Augusto N. Lapp

DEMOCRACIA DE MERCADO

11/10/2011

A democracia como forma de governo nasceu na Grécia. Surgiu com plena abrangência, expressando-se em toda a sociedade? Não. Adquiriu forma adequada aos interesses da aristocracia grega, no máximo, com manifestação também entre os chamados cidadãos livres. O escravo, considerado apenas uma ferramenta animada, que fala, não tinha qualquer direito de expressar-se politicamente. Era uma democracia, portanto, limitada, de acordo com as regras da classe dominante. Esta lógica foi seguida pela aristocracia romana.

Em relação à Idade Média, o comportamento político era ditado pela nobreza feudal e o Clero. Como setores dominantes da época, determinavam o que era certo ou errado, não só em termos políticos, mas também no que se referia ao pensamento em geral. Traçavam as restrições que achavam indispensáveis para evitar qualquer ameaça aos seus interesses de classe. Ideologicamente, defendiam a tese de que quem não concordasse com a sua concepção de mundo, na verdade, estava contra Deus. Consequentemente, aquele que desejasse ir além de seus cânones estaria com o Diabo.

Ao surgir a burguesia, outra visão de mundo apareceria. As amarras impostas pelo feudalismo –principalmente no tocante ao movimento comercial e à indústria – teriam de ser eliminadas. O que só se tornaria possível através de algum nível de liberdade política e de pensamento. A consequência disso foram as revoluções burguesas e a queda do sistema feudal. Mas, que setores sociais deveriam ter liberdade política e de pensamento? A burguesia concordaria com que todas as classes sociais tivessem plenamente tal direito? Não lhe seria um perigo que as massas exploradas e oprimidas, trabalhadores em geral, também quisessem participar, sem limitações, do processo político? Toda classe dominante sabe o que quer, em geral; tem consciência do que lhe convém ou não, em qualquer aspecto da vida social. A burguesia sempre deixou claro que democracia sem as suas regras, que oferecesse qualquer ameaça ao seu direito de explorar o trabalhador e a conseqüente concentração de riquezas em suas mãos, jamais seria aceita. Na sua visão, o papel do trabalhador é apenas trabalhar, não devendo participar de política. Mas, como o trabalhador com um mínimo de consciência de classe sabe que a sua libertação sem a luta política é impossível, luta por seus direitos de participar democraticamente das lutas políticas. Foi o que aconteceu com o proletariado inglês, no início do século XIX, na luta pelo direito ao voto.

Vendo nisso um perigo, a partir desse momento, a classe capitalista começou a agir cada vez mais de forma antidemocrática, achando que a democracia que ela mesma andava defendendo teria de ser restrita, sem povo. A classe trabalhadora sempre querendo o máximo de democracia; a classe dos exploradores sempre agindo no sentido de uma democracia sem participação popular ou até mesmo de nenhuma democracia. Exemplos não faltam. Quando o processo democrático começou a avançar, em muitas partes do mundo, favoravelmente aos interesses de toda a população, massacres e inclusive genocídios aconteceram: um milhão de mortos na Espanha republicana e 40 anos de ditadura fascista; 500 mil fuzilados na Indonésia, quando o governo de Sukarno ameaçava transformar a democracia formal desse país numa alternativa efetiva de soberania popular; 200 mil assassinados na Guatemala e 50 mil desaparecidos, de acordo com informação da Comissão de Esclarecimentos Históricos guatemalteca; 30 mil desaparecidos na Argentina; 3200 desaparecidos no Chile, além de milhares de torturados e exilados; centenas de mortos e torturados no Uruguai e no Brasil. Tudo isso, sem se falar dos mortos e desaparecidos de El Salvador, Nicarágua, Haiti e do interminável banho de sangue na Colômbia, com mais de 20 mil mortos por ano desde os anos 60, com o assassinato de 5 mil dirigentes da União Patriótica e a expulsão de 3,5 milhões de suas terras. Some-se a isso a infinidade de golpes de estado, assassinatos políticos, sabotagens de todos os tipos, prisões e torturas orquestradas pelas agências do imperialismo, principalmente a CIA, com a cumplicidade das classes dominantes locais, fatos que nos dão a dimensão do perigo que enfrentam os povos e suas organizações na luta pela democracia e seu avanço.

As lutas e vitórias se dão em vaivens; apesar de tudo, as lutas pela democracia não param. Façam o que fizerem, as classes dominantes não conseguem vitórias duradoras contras as forças democráticas. Não abrem mão de sua ideologia fascista e de práticas golpistas, mas percebem que não devem depender apenas destes meios. Por isso, intensificam suas ações junto aos seus meios de comunicação, buscando convencer a população de que a democracia de mercado, de livre concentração de riquezas nas mãos de uma minoria, é a única democracia verdadeira. Defendem que o direito ao voto significa plena liberdade democrática, cabendo apenas aos eleitos debaterem e traçarem o destino do país. Temem que o povo deseje ir além do ato de votar, organizando-se para decidir sobre o que lhe interessa na vida econômica, política e social.

Contudo, embora sabendo que apenas a participação pelo voto não acarreta maior perigo aos seus interesses, as forças capitalistas procuram agir com o máximo de segurança durante as eleições, na defesa de seus privilégios de classe. Como só confiam em pessoas compráveis, financiam candidaturas dos diversos partidos com que se afinam política e ideologicamente, ficando com a certeza de que com a eleição dos seus confiáveis o Estado continua à sua plena disposição, quer como instrumento de repressão aos seus opositores, quer como instrumento transmissor de recursos públicos para as suas mãos. Na realidade, compram as eleições, privatizam as campanhas eleitorais, ao comprarem os seus principais produtos: os candidatos. Como quem compra uma mercadoria é dono dela, a gente do povo vota, mas o eleito não lhe pertence. Pelo contrário, o seu voto serve apenas para legitimar o compromisso do eleito com quem o financiou. Na verdade, o financiado usa o eleitor como simples moeda de troca. Ao vender sua candidatura, vende também os votos que recebe, sem que os votantes tenham a menor consciência disso. O preço do candidato no mercado eleitoral – é óbvio – depende de seu potencial de votos, avaliado por estimativas. E os financiamentos de campanha ocorrem obedecendo a esta lógica. Chamou a atenção de muita gente a afirmação de um grande empresário, em plena rede de televisão, de que preferia apoiar por igual, em termos financeiros, as duas principais candidaturas nas eleições para presidente do Brasil, em 2010. “Assim me sinto mais seguro”, dizia ele. É este processo que se chama de democracia de mercado. Para a classe dominante, ou ela ou o golpe de estado, de acordo com o maior ou menor avanço da participação política do povo de forma organizada. Uma democracia regida por quem tem medo da democracia, amparada em alguma formalidade.

Por outro lado, o quadro exposto significa que inexiste algum nível de consciência contra a democracia restrita de mercado entre os explorados? Até certo ponto, sim. Todavia, manifestações em contrário vêm acontecendo, com avanços. Na Bolívia, Equador, Venezuela, como exemplos, as populações assalariadas, cada vez mais, vêm exercendo protagonismo no processo político, eleitoral ou não, desejando mudar as relações de poder e até mesmo de propriedade. Avançam nas discussões sobre formas de governo, caráter social de governos e do Estado, sistemas sócio-econômicos, causas das desigualdades, ética da igualdade, ideologia da desigualdade, formas de organização política e de construção de culturas para a construção de um mundo com o máximo de igualdade; enfim, tudo por uma democracia sem limites, popular, socialista. Cresce a consciência de que quem explora não é democrata, de que a democracia de mercado é a ditadura dos capitalistas.

Luís de Castro